VEJA VÍDEO – Saída de José Heitor abre disputa por cargo cobiçado em Rio Preto; Coronel Fábio evita cravar sucessor e exalta legado técnico

Rodrigo Lima

A saída do secretário de Serviços Gerais de São José do Rio Preto, José Heitor dos Santos, reconfigura o tabuleiro político da gestão Coronel Fábio Cândido (PL). Promotor de Justiça aposentado, Heitor pediu exoneração do cargo nesta quarta-feira (25), surpreendendo servidores da pasta e vereadores que já especulam quem poderá herdar o comando de uma das secretarias mais estratégicas e cobiçadas da cidade.

A exoneração, segundo o prefeito, já estava prevista desde o início do ano. “Havia um ajuste com ele em razão de problemas particulares. Disse que ficaria até o meio do ano para me ajudar a reorganizar a Secretaria, que ficou absolutamente abandonada na gestão passada”, afirmou Cândido, durante entrevista nesta quarta.

Apesar do tom tranquilo do prefeito, a saída ocorre em meio a críticas crescentes de parlamentares. Nos bastidores da Câmara, Heitor era visto como um técnico “sistemático demais” e “pouco político”. A principal queixa é que ele seguia um cronograma técnico de ações, sem priorizar indicações e pedidos de vereadores — algo que, mesmo informalmente, ainda pesa na dinâmica político-administrativa local.

Cargo de alta visibilidade atrai apetite político
A Secretaria de Serviços Gerais possui capilaridade e forte apelo popular por estar diretamente envolvida com zeladoria urbana, limpeza, manutenção de espaços públicos e pequenas obras em bairros — ações que geram visibilidade para eventuais projetos eleitorais. Não à toa, o cargo é considerado um “sonho de consumo” por políticos como o vereador Paulo Pauléra (PP), aliado da base de sustentação do prefeito.

Questionado sobre um possível nome para a substituição, Cândido desconversou: “Nem parei para pensar nisso ainda. Estamos avaliando. Conversei com ele [Heitor] hoje, quando me comunicou a decisão”, afirmou. Ao ser perguntado diretamente sobre Pauléra ou uma eventual influência do deputado estadual Valdomiro Lopes (PSB), o prefeito foi direto: “Não é o caso específico da Secretaria de Serviços Gerais.”

Prefeito elogia trabalho 
Mesmo sob desgaste político, Heitor sai com respaldo público de Fábio Cândido. “É uma pessoa que trabalha muito e tem qualificações técnicas. Fez uma apuração de absolutamente tudo que havia de equivocado na Secretaria e corrigiu o curso. Cumpriu sua missão com honra e garra”, disse o prefeito.

Interlocutores próximos ao governo apontam que o próximo nome a assumir a pasta precisará equilibrar competência técnica com maior capacidade de articulação política. “Não dá mais para errar em uma pasta como essa. O prefeito precisa de alguém que consiga executar, mas também saiba dialogar com os vereadores”, disse um aliado de Cândido que pediu anonimato.

FIT 2025: cultura e economia em alta
No mesmo dia em que anunciou a saída de Heitor, o prefeito também celebrou o lançamento oficial do Festival Internacional de Teatro (FIT) 2025, que promete ser o maior já realizado em Rio Preto. “Serão 111 espetáculos, 41 a mais do que o ano passado, com presença de companhias de nove estados brasileiros e cinco países estrangeiros. É um evento grandioso, gratuito e pensado para todas as idades”, destacou Cândido.

O prefeito fez questão de reforçar que, mesmo sem o apoio tradicional do Sesc, o FIT será expandido para 18 pontos diferentes nas 10 regiões administrativas da cidade, incluindo apresentações em bairros periféricos. “Isso tudo movimenta a economia local — hotéis, restaurantes, artesanato. Estamos fomentando a economia criativa, que gera emprego qualificado e renda para a cidade”, declarou.

Segundo Cândido, a gestão conseguiu viabilizar o evento por meio da articulação direta do secretário de Cultura, Robson Vicente, o Robinho. “Ele buscou patrocinadores e garantiu que o FIT continuasse gratuito, descentralizado e com foco na família, como foi nosso compromisso de campanha”, afirmou.

Novo ciclo
A saída de José Heitor abre espaço para um novo ciclo político no secretariado. O cenário aponta para a possibilidade de acomodação de aliados da base, especialmente de figuras com protagonismo na Câmara. O nome escolhido poderá servir como termômetro do grau de pragmatismo político que o Coronel Fábio Cândido está disposto a adotar no segundo semestre do primeiro ano de sua gestão.

Enquanto isso, o prefeito tenta manter a narrativa de avanço técnico e entrega de resultados. “Muita coisa que prometemos está sendo concretizada, apesar das dificuldades. O FIT é um grande exemplo disso”, concluiu.

“Puerto Madero” em Rio Preto

Coronel Fábio Cândido aproveitou o lançamento do FIT para reforçar sua marca de governo em três frentes que têm crescido em sua narrativa pública: cultura popular acessível, desenvolvimento urbano e economia criativa.

Ao lado do secretário de Cultura Robson Vicente, o Robinho, Cândido adotou um tom de celebração, mas também de enfrentamento: “Cultura não tem partido, não tem ideologia — é arte na veia, é teatro na veia”, afirmou, mirando os críticos que tentaram rotular sua gestão como distante do setor cultural.

O discurso foi recheado de recados e acenos estratégicos. Em tom emocional, revelou que o gosto pela arte vem de berço. “Meu pai foi músico, fundador da banda da Polícia Militar de São Paulo. Foi com a música que ele colocou comida na mesa. E é com cultura que também se constrói caráter”, disse.

Desconstrução de narrativas e valorização local
Na fala, o prefeito fez questão de ressaltar o esforço da gestão em descentralizar o FIT, promovê-lo de forma gratuita e valorizar os artistas locais, que — segundo ele — foram esquecidos nas edições anteriores.

“Só víamos nossos artistas se apresentando fora da cidade. Agora eles são protagonistas. A maior participação de artistas de Rio Preto da história do festival é neste governo”, enfatizou.

Com ingressos disponibilizados gratuitamente via plataforma digital e limite por CPF, o prefeito garante que o evento será “para todas as idades, de todas as regiões da cidade”, com 18 pontos de apresentação distribuídos entre as dez regiões administrativas.

Da cultura ao turismo: o projeto da represa
Em um movimento ousado, Cândido ampliou o foco para além do FIT. Revelou que o governo municipal trabalha em um plano para transformar a área da Represa Municipal no que chamou de “Puerto Madero de São José do Rio Preto” — uma referência ao projeto urbanístico de Buenos Aires, na Argentina, que transformou uma antiga área portuária em centro de lazer e negócios.

“Essa avenida ao lado do Complexo Swift está com os dias contados. Vamos fechá-la e transformar a represa na região mais turística da cidade”, anunciou.

O plano envolve:

🏨 Centro de convenções

🏟️ Arena multiuso para eventos e cultura

🏄‍♂️ Esportes aquáticos

🏨 Possível construção de hotel voltado à margem da represa

Cândido pediu apoio da Câmara  para aprovação do projeto de parcerias público-privadas (PPPs), que deverá viabilizar os empreendimentos.

Economia criativa como motor da cidade
A proposta do FIT 2025, segundo o prefeito, é um “modelo” da economia que quer consolidar em Rio Preto: eventos culturais que movimentem restaurantes, hotéis, comércio, prestadores de serviço e o turismo regional.

“Economia criativa é recurso na veia da população. São impostos arrecadados que se transformam em prestação de serviços de qualidade”, disse, ao reforçar que o evento vai fomentar “renda qualificada” e consolidar Rio Preto no calendário nacional do turismo.

Identidade e posicionamento político
Em tom mais político, o prefeito deixou claro que se orgulha das críticas e que está disposto a enfrentá-las com “fatos e entregas”:
“Eu gosto de ser provocado. Estamos desconstruindo narrativas com gestão e resultado. Rio Preto voltou a ser protagonista.”

Sem mencionar adversários diretamente, Cândido mira na construção de uma identidade própria, baseada em entrega técnica, valorização de servidores e afirmação simbólica de um novo tempo para a cidade — com a cultura ocupando o centro da narrativa.

“Nós faremos de Rio Preto a joia do Brasil”, encerrou.

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