Vídeo de cruz em chamas foi para ‘superar limites’, afirma Polícia Militar

Rodrigo Lima
Baep enfrenta a criminalidade nas ruas de Rio Preto/ imagem – divulgação

A divulgação de um vídeo institucional pelo 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de Rio Preto provocou forte repercussão nas redes sociais nesta semana. Com imagens noturnas captadas por drone e trilha sonora de tensão, o conteúdo mostra cerca de 14 policiais diante de uma cruz em chamas – que remeteria a rituais históricos da Ku Klux Klan, organização supremacista branca dos Estados Unidos.

O material foi publicado na terça-feira, 15, no perfil oficial do batalhão no Instagram, @baepriopreto, em colaboração com o Comando do Policiamento do Interior 5 (@cpi5pmesp) e o major José Thomaz Costa Júnior. Horas depois, diante da reação negativa, o vídeo foi retirado do ar. Ainda assim, os poucos segundos no ar foram suficientes para que o conteúdo se espalhasse por grupos de WhatsApp e viralizasse em outras plataformas.

A estética do vídeo, com a cruz incendiada, policiais perfilados e uma saudação sincronizada, causou perplexidade e indignação. O cenário e os símbolos empregados são historicamente associados a práticas violentas e discriminatórias da KKK, grupo que defende a supremacia branca e promoveu atos de terrorismo racial durante décadas nos EUA.

Após o caso ganhar repercussão nacional, a Polícia Militar do Estado de São Paulo divulgou uma nota oficial à imprensa a qual o Diário do Rodrigo Lima tece acesso na manhã desta quarta-feira, 16, tentando esclarecer o contexto do vídeo. Segundo a corporação, a gravação foi feita durante o encerramento de um treinamento noturno com os agentes da unidade. A ideia, segundo o texto, era representar “a superação dos limites físicos e mentais dos policiais” e reforçar o combate diário ao crime organizado, especialmente o tráfico de drogas.

“Não houve qualquer intenção de associar a imagem a grupos extremistas ou organizações ligadas ao ódio, discriminação ou intolerância racial, como a Ku Klux Klan”, diz trecho da nota.

A corporação também afirmou que o uso do símbolo da cruz em chamas teve um caráter “puramente alegórico” e que “em nenhum momento houve intenção de associação a ideologias de natureza religiosa, racial ou política”.

“A Polícia Militar lamenta eventuais interpretações equivocadas e reafirma seu compromisso com a legalidade, o respeito aos direitos humanos e os valores democráticos que regem sua atuação”, finaliza o comunicado.

Vídeo retirado do ar
Apesar da tentativa de justificar o vídeo como parte de uma simbologia interna da tropa, a própria PM reconheceu que, diante da repercussão e da possibilidade de “interpretações distorcidas”, optou por remover o conteúdo do ar. Segundo o comando da corporação, as “circunstâncias de sua produção estão sendo apuradas internamente, com o devido rigor”.

O Ministério Público e a própria corporação  já anunciaram que vão apurar o conteúdo do vídeo. O órgão pretende investigar se houve crime ou infração administrativa por parte dos envolvidos. A promotoria quer entender se o vídeo configura algum tipo de apologia a práticas discriminatórias ou se violou regras da corporação e da Constituição Federal.

Veja o vídeo:

 

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