A manhã desta segunda-feira (9) marcou uma virada aguardada por anos pelos moradores do bairro Solo Sagrado, em São José do Rio Preto. A Prefeitura, por meio da Defesa Civil, promoveu a demolição de uma casa abandonada que era alvo de denúncias constantes de vizinhos, especialmente por ser usada como ponto de uso de drogas, esconderijo de suspeitos e depósito de lixo — tudo isso a menos de dois metros da residência da dona de casa Idalice Garcia Perucci, uma das principais vozes que cobravam providências.
A ação teve a presença do prefeito Coronel Fábio Candido, que explicou o processo. Segundo ele, o imóvel estava em estado avançado de deterioração, sem condições de habitação e colocando em risco a saúde pública e a segurança dos moradores. “Havia foco de mosquito da dengue, escorpiões, um volume de lixo imenso e entrada constante de usuários de droga. Foi feita avaliação técnica por várias equipes da Prefeitura. Com a autorização do proprietário, executamos a demolição”, disse o prefeito, que estava acompanhado da equipe técnica da Defesa Civil, da Guarda Civil Municipal, de agentes de saúde e operários com os devidos EPIs.
Coronel Candido destacou que o município já tem outros imóveis cadastrados com o mesmo perfil e que uma legislação mais ágil está sendo proposta com o apoio do vereador Pastor Jonathan Santos (Republicanos). “Essas ações vão se tornar corriqueiras. Já há um levantamento de casas abandonadas em situação de risco. Demoramos três meses para viabilizar esta intervenção. Com apoio da Câmara, queremos aprovar um projeto de lei que torne o processo mais célere”, afirmou.
Além disso, o chefe do Executivo municipal ressaltou que os custos da demolição serão cobrados do proprietário via IPTU: “Não é o que queremos fazer. A demolição é a última instância. Mas quando o imóvel não cumpre função social e vira risco à comunidade, o poder público precisa agir”.
Vizinhança em pânico: “Parecia um muquifo do lado da minha casa”
A moradora Idalice Garcia Perucci, que vive ao lado da residência demolida, foi às lágrimas durante a entrevista ao Diário do Rodrigo Lima. “Eu estava morando do lado de um muquifo. Hoje, parece que ganhei um palácio. Vivo com medo há anos. Já acordava assustada achando que tinham colocado fogo. Eu não dormia direito. O trauma era tanto que ver o portão balançar me dava pânico”, contou.
Viúva e morando sozinha, Idalice relatou que o local era frequentado por grupos de até 20 pessoas, muitas vezes durante o dia todo, especialmente aos finais de semana. “Eles vinham, faziam o que queriam e iam embora. À noite era um tormento. Eu falava pra minha sogra que estava com trauma do portão”, afirmou.
Mesmo sem nunca ter tido confrontos diretos, o medo era constante: “Nunca me envolvi, nunca falei nada com eles. Mas o que me tirava o sono era saber que eram usuários e podiam colocar fogo. Eu tinha medo de morrer queimada”, desabafou.
Jardim Paraíso é o próximo alvo
Durante a entrevista, o prefeito também anunciou que o próximo foco de ação será no Jardim Paraíso, bairro que sofre com situações semelhantes. “É uma vergonha pra cidade. Vamos atuar lá com urgência. Já determinei ao coronel Ivair, da Defesa Civil, que prepare as próximas ações. A região precisa de uma revitalização completa”, afirmou Candido.
Ele também falou sobre a situação envolvendo uma empresa terceirizada, responsável por trabalhadores da educação que amanheceram em protesto por atraso nos salários. Segundo o prefeito, a empresa não conseguiu apresentar certidão negativa de débitos (CND) e, por isso, a Prefeitura optou por pagar diretamente os trabalhadores. “Já começamos os depósitos diretamente nas contas dos profissionais. A educação não pode parar”, garantiu.
A demolição do imóvel no Solo Sagrado simboliza mais do que uma ação pontual. Representa uma nova fase do governo municipal no enfrentamento a imóveis abandonados e à degradação urbana.
“Se for possível reformar, podemos até destinar para habitação social. Mas se o imóvel coloca vidas em risco e não cumpre sua função social, o poder público vai agir”, reforçou o prefeito.