O juiz de Mirassol Marcos Takaoka decidiu que o professor Israel Lisboa Júnior, 30 anos, vá a júri popular por conta do atropelamento de 16 manifestantes bolsonaristas na rodovia Washington Luís, em novembro de 2022. Ele será julgado por 16 tentativas de homicídio, tendo crianças e dois policiais militares entre as vítimas.
De acordo com a decisão da Justiça, o motorista atropelou o grupo de pessoas após furam bloqueio que havia na rodovia. As vítimas foram surpreendidas pelo carro que arrancou sobre as pessoas, o que possibilitou o entendimento da ação como uma tentativa de homicídio qualificada mediante surpresa.
A decisão do magistrado atende ao pedido do Ministério Público que entendeu que o rapaz agiu com dolo eventual,ou seja, assumiu o risco de produzir o resultado. “Os vários laudos de exame de corpo de delito supramencionados revelam a materialidade, atestando que houve lesões corporais compatíveis com os delitos descritos na denúncia. Por sua vez, os depoimentos das testemunhas poderiam atestar, em tese, que o réu teria causado os ferimentos nas vítimas, valendo-se de veículo para tanto, talvez, assumindo o risco de matá-las (ou seja, talvez, com dolo eventual)”, escreveu o Takaoka na sua decisão.
De acordo ainda com o juiz, “não se pode excluir a existência de dolo eventual, já que algumas testemunhas teriam dito que o réu estaria nervoso e, por isso, teria acelerado em direção à multidão, assumindo, talvez, o risco de matar várias pessoas”.
Rodovia fechada
Em novembro de 2022, o grupo de manifestantes fechou a rodovia para protestar em relação ao resultado da eleição presidencial, que elegeu Lula presidente. Bolsonaristas fecharam diversas rodovias no país.
Consta no processo que o motorista pretendia levar a mãe a uma consulta médica, começou a fazer ultrapassagens pelo canteiro central até chegar ao ponto de bloqueio.
“Após uma parada instantânea, teria acelerado bruscamente seu veículo em direção às pessoas, atropelando, pelo menos, 14 populares e dois policiais militares, observando-se que dentre os civis havia duas crianças. Com o choque, o acusado teria arremessado pessoas à frente e lateralmente, outras por cima do capô e passado com o carro por cima de outras, assumindo, em tese, o risco de matá-las e expondo muitas outras a perigo de morte”, consta em trecho da sentença.
De acordo com a decisão, abordado por policiais, Israel teve o carro depredado por manifestantes e foi preso em flagrante. Quatro meses depois, foi beneficiado com liberdade provisória. A defesa do réu pode recorrer da decisão.
“Eventuais contradições entre os testemunhos, mencionados pela defesa,deverão ser melhor analisadas perante o juiz natural, a saber, o Egrégio Tribunal do Júri, que, por óbvio, poderá acolher ou rejeitar as alegações defensivas”, escreveu o juiz na sua decisão.