Sob o calor escaldante da região de Rio Preto, um personagem vem se tornando símbolo de paixão, resistência e alegria nos gramados: o Leão do Mirassol. Por trás da fantasia está Thiago Prates, coreógrafo, dançarino, ex-jogador de base e hoje intérprete do mascote mais carismático do futebol regional. Em entrevista ao Podcast Diário do Rodrigo Lima, ele detalhou os desafios e bastidores de dar vida a um dos símbolos mais queridos do clube.
Com passagens pela base do Mirassol como lateral-direito e zagueiro, Thiago nutriu desde cedo uma relação afetiva com o clube. “Sempre acompanhei o time, desde os tempos de Série D, jogos contra equipes bem inferiores. Estar hoje na Série A do Paulista e do Brasileiro é uma conquista que parecia distante”, relembrou.
Há oito anos, ele assumiu o papel de mascote. A identificação com o personagem cresceu na mesma medida em que o clube ascendeu nos campeonatos nacionais. “É uma caminhada longa. Subimos juntos”, resume.
Suor, limitações e preparo físico
Vestir a fantasia do Leão exige mais do que animação. Requer preparo físico, controle emocional e resistência. “A maior dificuldade é respirar e enxergar. Tenho astigmatismo e miopia, e a fantasia dificulta ainda mais. Além disso, a roupa encharca de suor. Perco até 1,5 kg por jogo”, contou. Mesmo com os obstáculos, ele segue firme, ajudado por uma rotina de dança que substitui a musculação na preparação.
O trabalho do mascote vai além de fotos e danças. Thiago criou um verdadeiro roteiro de interação com os torcedores. “No primeiro tempo, fico com a torcida para tirar fotos. No segundo, vou atrás do gol. Brinco com o radinho dos tiozinhos, finjo que lustro carecas, jogo com o público. É tudo pensado para criar um momento de alegria”, relatou.
A performance, no entanto, carrega também responsabilidade. “Represento o clube, as marcas parceiras. Tenho que agir com cautela, evitar provocações, principalmente diante de torcidas adversárias. Brinco, mas com seriedade.”
Referência entre mascotes
Thiago participa de um grupo com cerca de 80 mascotes de clubes de todas as divisões do Brasil. “A gente troca ideia, orienta um ao outro. Recentemente, teve caso de mascote que apanhou em jogo por provocar torcida. Esse tipo de atitude a gente tenta evitar. O personagem deve levar alegria, não tensão.”
Seus ídolos também estão no universo das mascotes: Benny, dos Chicago Bulls, é a principal referência internacional. No Brasil, elogia o mascote do Red Bull Bragantino, também dançarino, e o do Palmeiras, conhecido pelas embaixadinhas com pantufas.

Reconhecimento e carinho da torcida
O aumento da visibilidade do Mirassol em competições nacionais trouxe também mais reconhecimento ao mascote. “O assédio aumentou. Hoje tem mais gente tirando foto, mais criança entregando desenho, mais adultos emocionados. A gente sente que está fazendo parte da história.”
Dois torcedores da Fúria Leonina, Marcinho e Tibério, são citados por ele como figuras fundamentais no apoio ao trabalho. “Eles sempre perguntam se estou bem, se preciso de água. Isso é raro e faz diferença.”
Infraestrutura, profissionalismo e sonho do Maracanã
O Mirassol evoluiu em estrutura e profissionalismo. O mascote tem espaço reservado no vestiário, participa de ações sociais e possui acesso à alimentação do clube. “Tem frutas, água de coco, isotônico da Poti. Depois dos jogos, até pizza rola.”
Apesar disso, a entrada em campo depende de liberação da CBF, o que limita a atuação do mascote em algumas partidas. “Mesmo assim, no intervalo, estou sempre no gramado.”
Thiago também revelou que sonha em acompanhar o Mirassol no Maracanã. “Minha esposa liberou. Só falta a CBF autorizar para eu entrar com a fantasia. Seria o auge da minha trajetória como Leão.”
A cabeça que subiu de divisão
O personagem passou por transformações. “Hoje usamos uma cabeça nova, com menos visibilidade, mas que criou identidade com a torcida. A antiga, que me acompanhou desde a Série D, está exposta na loja oficial, a Fanáticos.”
O figurino e as interações evoluíram junto com o clube. “O Leão agora dança, mas com moderação. Tem que manter a imponência do rei da selva.”
A relação com jogadores também é próxima. Entre os mais acessíveis, cita Fabrício Daniel, com quem compartilha histórias da paternidade recente. “Minha filha Manoela nasceu há três meses. Ele também vai ser pai. A gente troca figurinhas.”
No campo, tem sua cota de gols — inclusive olímpicos — e algumas bolas perdidas, o que vira motivo de brincadeira da torcida. “Mesmo com astigmatismo, a galera perdoa.”
Campeão com o time e com o público
O momento mais marcante, segundo Thiago, foi o título da Série C, quando invadiu o gramado e foi abraçado por um jogador que nem conseguiu identificar. “Ele queria tirar a cabeça da fantasia, mas não deixei. Me abraçou e agradeceu.”
Mais que um animador, Thiago Prates se tornou elo entre torcida e jogadores, levando esperança e sorriso em cada dança, chute ou abraço suado. “Representar o Mirassol é uma honra. O mascote é uma ponte de emoção entre arquibancada e campo.”
Muito interessante.
Ótimo conhecer pessoas dedicadas e diferente.