A chegada de uma frente fria intensa a São José do Rio Preto, com temperaturas previstas em 7ºC, acendeu um alerta na área da saúde. Em entrevista ao Podcast Diário do Rodrigo Lima, a médica sanitarista Merabe Muniz, presidente do Sindicato dos Médicos, abordou de forma direta os impactos físicos e emocionais causados por quedas bruscas de temperatura e ofereceu orientações valiosas para a população — sobretudo aos grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas em situação de rua.
“Nosso corpo sofre com a mudança porque ele não está habituado ao frio. Em Rio Preto, somos seres do calor. Uma queda brusca ativa mecanismos fisiológicos de defesa, mas também traz consequências, como dores, cansaço e até queda na imunidade”, explicou Merabe.
O frio e o corpo: por que sentimos tanto?
Merabe destacou que o frio obriga o corpo a economizar energia, o que leva à sensação de apatia e aumento do apetite — especialmente por doces e alimentos calóricos. O organismo também realiza a chamada vasoconstrição periférica, redirecionando o sangue das extremidades para os órgãos vitais.
“É por isso que sentimos mãos e pés gelados, dores musculares e nas articulações. O corpo se contrai, e isso afeta até o humor. O frio não é só físico, é também emocional”, afirma.
Ela ressalta a importância de manter as extremidades aquecidas, principalmente nos idosos, que já têm menor capacidade fisiológica de autorregulação térmica.
Grupos de risco: atenção redobrada
Crianças, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades — especialmente respiratórias ou imunológicas — são os mais afetados durante frentes frias.
“O idoso já perdeu a maior parte da resposta térmica. A criança ainda está desenvolvendo. Deixar esses grupos mal agasalhados pode provocar doenças oportunistas e agravar quadros crônicos”, alertou a médica.
Ela também explicou a importância do efeito cebola, método de vestir-se em camadas: “Evita os extremos de temperatura, protege a imunidade e regula melhor o corpo”.
Água, ar e aquecedores: equilíbrio é fundamental
Outro ponto crítico é a hidratação. Segundo Merabe, é comum no frio as pessoas beberem menos água, o que representa um perigo, principalmente para idosos e crianças. Isso pode levar a desidratação e agravar infecções respiratórias.
Sobre aquecedores, o alerta é claro: “Eles secam demais o ambiente. Sempre recomendo deixar um pano úmido no cômodo. O ar seco machuca a mucosa nasal e pode causar sangramentos (epistaxes). É muito comum no pronto-socorro nessa época”.
Ela ainda recomenda manter o nariz úmido com soro fisiológico e ventilar os ambientes: “Fechar tudo para se proteger do frio cria um ambiente ideal para proliferação de vírus”.
Doenças mais comuns e sinais de alerta
As doenças mais incidentes no frio são as respiratórias: gripe comum, H1N1, COVID-19 e bronquiolite (em crianças). A médica destaca um dado alarmante:
“Em 2024, o H1N1 já matou mais que o COVID em Rio Preto. E mesmo assim a taxa de vacinação está abaixo de 30%”.
Ela aponta os sinais de gravidade na bronquiolite: respiração ofegante, retração entre as costelas e falta de apetite. “Febre leve não é indicativo para correr ao pronto-socorro. O importante é observar o comportamento e esforço respiratório”, disse.
Vacinas: desinformação pode matar
Merabe fez uma defesa veemente da vacinação e criticou o negacionismo:
“Só fala mal de vacina quem não viveu dentro de uma UTI COVID. Eu coordenei cinco UTIs em Rio Preto. Em um fim de semana, declarei 14 óbitos. Quando os idosos foram vacinados, os casos graves sumiram entre eles. Depois veio a vez dos jovens. Mãe enterrando filho. É uma tragédia que poderia ser evitada.”
Ela reforçou que a vacina da gripe protege contra três tipos de vírus (inclusive H1N1) e que a vacinação contra a COVID continua sendo essencial.
“É irresponsabilidade de formadores de opinião espalhar desinformação sobre vacinas. Isso já fez com que doenças erradicadas, como a poliomielite, comecem a reaparecer. Precisamos retomar a confiança na ciência.”
Situação de rua: resistência aparente esconde riscos
Questionada sobre a população em situação de rua, Merabe reconheceu que muitos demonstram resistência física, mas isso não significa ausência de risco.
“Eles criam mecanismos de sobrevivência. Mas o risco de hipotermia, pneumonia e descompensação de doenças crônicas é altíssimo. Precisam ser acolhidos e assistidos.”
Reforço à imunidade: comida, sol e consciência
Para fortalecer a imunidade, Merabe recomenda o consumo de alimentos ricos em vitamina C (laranja, acerola, morango, pimentão amarelo) e vitamina D (banho de sol até as 10h). Evitar alimentos gordurosos e ultraprocessados também ajuda a manter o corpo saudável.
DICAS PARA ENFRENTAR O FRIO COM SAÚDE:
✅ Vista-se em camadas (efeito cebola)
✅ Mantenha-se hidratado, mesmo sem sede
✅ Use aquecedores com cautela e umidifique o ambiente
✅ Evite ambientes fechados – ventile sempre
✅ Cuide especialmente de crianças e idosos
✅ Redobre os cuidados com a alimentação
✅ Mantenha a vacinação em dia
✅ Procure a emergência apenas com sinais de gravidade
“A saúde no frio exige equilíbrio, atenção e responsabilidade coletiva. E tudo começa com informação de qualidade”, conclui a médica.
Assista à entrevista completa no Podcast Diário do Rodrigo Lima, disponível no YouTube e nas principais plataformas.
