Com cinco meses à frente do Comando de Policiamento do Interior-5 (CPI-5), o coronel da Polícia Militar Nilson César Pereira fez um balanço direto e contundente sobre os desafios da segurança pública em São José do Rio Preto e região. Em entrevista ao Podcast Diário do Rodrigo Lima, o oficial defendeu o foco na prevenção inteligente, criticou as legislações penais que facilitam a reincidência, e sugeriu que algumas ações sociais descoordenadas, como a distribuição de marmitas, podem perpetuar a permanência de usuários de drogas nas ruas e aumentar a sensação de insegurança.
“A percepção de segurança é tão ou mais importante que o indicador criminal. Não adianta só prender, é preciso que a população sinta que está segura”, afirmou o coronel.
Na avaliação do comandante, o policiamento preventivo com base em dados e a atuação do setor de inteligência da PM têm sido decisivos para manter baixos os índices de crimes violentos na região de Rio Preto — cidade com mais de 500 mil habitantes, considerada estratégica por sua posição geográfica.
Como exemplo, citou a frustração de um plano de assalto a carro-forte, que envolvia armamento pesado e disfarces cinematográficos. A ação foi desmontada antes de ocorrer. “Prender depois que o crime aconteceu é importante, mas o ideal é impedir que ele ocorra”, disse.
O impacto do tráfico
O tráfico de drogas foi apontado como epicentro de diversos outros crimes, do furto ao homicídio. Para o coronel, o problema vai além da repressão: “Quase todos os homicídios têm ligação com o tráfico. Por dívida, disputa por território ou desentendimento comercial”.
Segundo ele, o Brasil, por estar cercado por grandes produtores de drogas como Colômbia, Paraguai e Bolívia, acaba sendo corredor de passagem e consumo. “A droga vem pelas fronteiras, escoa por São Paulo e muitas vezes abastece o mercado interno, retroalimentando a criminalidade.”
Apesar de prisões diárias por tráfico na região, a reposição dos “soldados” do crime é quase imediata. “O traficante de ponta não é quem lucra. É o elo mais frágil, facilmente substituído.”
Legislação e reincidência
Nilson César foi categórico ao criticar a legislação penal, que considera permissiva. “Hoje, furto de veículo pode não levar ninguém à prisão. A lei entende como crime de menor potencial ofensivo, com pena abaixo de quatro anos. A prisão é exceção”, afirmou.
Esse abrandamento, segundo ele, cria um ciclo vicioso: o infrator é preso, solto, reincide. “Quase todos os autores de crimes violentos já tinham passagem anterior. Começam com furto, passam para roubo, tráfico…”.
O cenário é agravado pela progressão de regime: “A pessoa é condenada e, após cumprir um sexto da pena, vai para o semiaberto ou aberto. Logo está nas ruas novamente.”
Policiamento baseado em dados
O coronel destacou que o policiamento é planejado a partir de estatísticas de crimes registradas no mês anterior. Daí, segundo ele, a importância do registro de boletins de ocorrência. “Se não sabemos onde houve o crime, não conseguimos alocar viatura para prevenir”, explicou.
Ele ainda alertou sobre o uso indevido do 190, canal de emergência da PM. “Metade das ocorrências atendidas são perturbação de sossego ou desinteligência entre vizinhos. Isso desloca a viatura de áreas críticas.”
Além disso, o efetivo policial é limitado — e há dificuldades para preencher vagas nos concursos. “Hoje, em alguns certames, só um terço das vagas são preenchidas. A exigência de preparo intelectual está afastando candidatos.”
Centro de Rio Preto: presença firme
Questionado sobre o combate ao tráfico e consumo de drogas na área central de Rio Preto, o comandante foi direto: “Ali não é uma Cracolândia, mas é um foco de tráfico e consumo, e a Polícia Militar vai continuar atuando com firmeza.”
Segundo ele, o local atrai usuários e moradores de rua de outras cidades, especialmente por oferecer facilidades: alimentação, abrigo informal e pouco controle.
“Quem está em situação de rua busca conforto. Se ele tem onde dormir, onde comer e como conseguir droga, não vai embora. Vai permanecer ali e o entorno sente insegurança.”
Marmita e o efeito colateral
Em um dos trechos mais polêmicos da entrevista, o coronel criticou a distribuição informal de marmitas nas ruas. Segundo ele, ações assistenciais descoordenadas podem fomentar a permanência de usuários em áreas críticas.
“Quem doa tem boa intenção, mas às vezes o resultado é ruim. Já tivemos relatos de marmita trocada por droga. A pessoa fica ali porque tem tudo: comida, colchão, liberdade para usar droga.”
Ele defendeu que as ações sociais sejam orientadas para reinserção, com foco em tratamento contra o vício, qualificação profissional e reconexão com a família. “Distribuir marmita não tira ninguém da rua. O problema é mais profundo.”
“Nosso trabalho é para quem está do lado certo”
Ao final, o comandante reforçou que o foco da PM é atender e proteger o cidadão de bem. “Não é só prender. É garantir que as pessoas que trabalham, estudam e vivem nas cidades se sintam protegidas.”
E alertou: “O crime existe. Mas quando somos científicos, podemos evitá-lo. Nosso trabalho é para a maioria da população, que é honesta e quer viver em paz.”
📌 Saiba mais
A entrevista completa com o coronel Nilson César Pereira pode ser acessada no canal Diário do Rodrigo Lima no YouTube ou pelo portal diariodorodrigolima.com.br.
