EXCLUSIVO – Em depoimento à polícia, Marcondes nega ter usado expressão racista contra segurança do Palmeiras

Rodrigo Lima
Marcondes no gabinete do vice-prefeito na Prefeitura de Rio Preto/imagem – Rodrigo Lima 13/5/2025

O vice-prefeito de São José do Rio Preto, Fábio Marcondes (PL), prestou depoimento nesta terça-feira (13) na sede da Delegacia Seccional de Polícia, no âmbito da investigação que apura uma suposta injúria racial ocorrida após a partida entre Mirassol e Palmeiras, em fevereiro deste ano. Marcondes é apontado como autor de xingamentos contra um segurança do clube alviverde. Ele negou ter cometido qualquer ofensa de cunho racial.

A oitiva ocorreu dias após a divulgação do laudo pericial elaborado pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil, que concluiu não haver elementos técnicos que confirmem a expressão “macaco velho, lixo velho”, presente nas legendas de vídeos editados divulgados nas redes sociais e veículos de imprensa. Segundo a análise, a fala atribuída a Marcondes se aproxima foneticamente de “paca, véa! lixo! véa!”, com base em análise espectrográfica e fonética forense.

O laudo foi assinado digitalmente por uma perita criminal da Polícia Científica em 25 de abril e protocolado oficialmente no dia 6 de maio. O documento servirá de base para a condução do inquérito, que investiga eventual prática de injúria racial. O documento foi requisitado pelo delegado Renato Gomes Camacho, que vai prosseguir com as apurações no inquérito policial que tramita na Justiça de Mirassol – onde teria ocorrido o suposto crime.

A defesa de Marcondes, representada pelo advogado Edlênio Xavier Barreto, já havia dito, por meio de nota, que o laudo reforça a estratégia adotada, ao desconsiderar elementos não técnicos e sustenta a inocência do vice-prefeito. “O laudo pericial, elaborado pelo Instituto de Criminalística, reforça a correção da estratégia adotada pela defesa, ao não convalidar prova tecnicamente imprestável”, diz a nota.

Edlênio foi procurado nesta terça-feira para comentar o assunto, mas não respondeu as mensagens da reportagem. Marcondes também não quis comentar o teor do depoimento. A reportagem do DRL apurou que ele se negou a responder sobre o conteúdo do vídeo da perícia, quando foi questionado pelo delegado.

Análise técnica

A equipe técnica analisou dois arquivos de vídeo: um com 17 minutos, editado para fins jornalísticos, e outro bruto, com duração de 1 minuto e 36 segundos. O primeiro apresenta edições típicas de material televisivo, como inserções de narração, efeitos sonoros sobre xingamentos e legendas explicativas. Essas alterações foram classificadas como editoriais, não sendo consideradas indicativos de manipulação dolosa ou alteração de conteúdo factual.

No segundo vídeo, apesar de conter legendas sobrepostas, os peritos concluíram que não há sinais de cortes de imagem ou áudio que comprometam a linearidade dos eventos registrados. O material foi considerado íntegro em termos acústicos e estruturais.

Atribuição de voz

De acordo com o laudo, foi possível associar falas como “lixo”, “vai embora, lixo” e “lixão” a um indivíduo de camiseta branca e óculos, posicionado à esquerda da imagem — o que coincide com a aparência do vice-prefeito. A atribuição foi feita com base na sincronização entre imagem e som, considerando timbre vocal, ritmo, entonação e padrão espectral.

Entretanto, no trecho em que a legenda indica a expressão “macaco velho, lixo velho”, a perícia não encontrou correspondência técnica. Apesar de o indivíduo estar de costas, os analistas não identificaram elementos sonoros compatíveis com a palavra “macaco”, como a nasalidade na vogal inicial, oclusiva bilabial sonora \[m] e a sequência vocálica /a-a/. A transcrição fonética apresentada no laudo foi: \[ˈpakɐ ˈvɛɐ] ˈliʃu \[ˈvɛɐ].

A perícia também ressalta que legendas inseridas em vídeos não podem ser consideradas prova válida de conteúdo verbal sem respaldo técnico de análise fonética especializada.

Conclusão do laudo

O laudo pericial afirma que:

* Não há indícios técnicos de que a expressão “macaco velho, lixo velho” tenha sido dita;
* A fala registrada nos vídeos analisados é compatível com “paca, véa! lixo! véa!”;
* O vídeo jornalístico contém edições editoriais comuns, sem comprometer a cronologia dos fatos;
* O vídeo bruto não apresenta manipulações que alterem contexto ou conteúdo;
* A voz em trechos com xingamentos foi atribuída a um mesmo locutor;
* As legendas nos vídeos não têm amparo técnico.

Investigação em andamento

O inquérito segue sob responsabilidade da Polícia Civil de São Paulo, com condução do delegado responsável pelo caso. Não há previsão de encerramento imediato, já que outras diligências podem ser realizadas antes da conclusão do procedimento. O Ministério Público será responsável por analisar o inquérito e, se entender necessário, oferecer ou não denúncia à Justiça.

O caso ganhou repercussão estadual após a veiculação de vídeos nas redes sociais, em que uma voz é ouvida proferindo xingamentos na área externa do estádio após o encerramento da partida entre Mirassol e Palmeiras. A suspeita de injúria racial mobilizou torcedores e autoridades, levando à abertura de investigação criminal.

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