Se o roteiro da sessão da Câmara de São José do Rio Preto nesta terça-feira, 10, previa uma tempestade política, foi o vereador Bruno Moura (PRD) quem acendeu o fósforo. Entre vaias, provocações e aplausos nervosos, ele se recusou a fazer parte do que chamou de “espetáculo”. E como em toda boa trama política, sua fala virou ponto de virada.
Desde cedo, a plateia deixava claro para quem torcia. Servidores terceirizados e apoiadores do vereador Alexandre Montenegro (PL) ocuparam as galerias, munidos de cartazes, celulares e vozes inflamadas. Esperavam uma reviravolta ao vivo: a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar contratos da Prefeitura com empresas terceirizadas. Mas Bruno Moura decidiu desafinar o coro.
“Quem aceita pressão é a panela de pressão”, disse Moura, sob vaias e ironias.
Foi o suficiente para acionar seu modo combate. Com o microfone ainda quente, Bruno desceu do púlpito e “foi pra galera”, num movimento ousado — e arriscado — que tensionou ainda mais o clima já saturado de ânimos exaltados. Seu gesto dividiu até os adversários: uns viram coragem, outros enxergaram provocação. Veja o vídeo de discurso da sessão no final deste texto.
O clímax interrompido: Julião e o fim súbito da sessão
Enquanto a tempestade política avançava e os discursos elevariam o volume — especialmente a fala esperada do combativo João Paulo Rillo (PSOL) — o presidente da Câmara, Luciano Julião (PL), fez o impensável: encerrou a sessão de forma unilateral.
Sem consultar a Mesa Diretora ou votar requerimentos, Julião justificou a decisão alegando que não havia mais condições de garantir a segurança dos presentes. E assim, num gesto abrupto, jogou água no chope da oposição e entrou para os anais do Legislativo local – acesse o perfil do Instagram do Diário do Rodrigo Lima para ver o que disse Julião após a sessão.
Montenegro e Rillo não esconderam o desespero de quem perdia ali a oportunidade de surfar em uma onda formada pelos gritos de “assina a CPI”. Alguns parlamentares “cederam à pressão”, como Abner Tofanelli (PSB) e assinou o requerimento sob os aplausos das funcionárias terceirizadas, que deixaram de receber salários e estavam ali lutando pelos seus direitos. “Cadê o meu salário?”, questionava um dos cartazes no plenário.
Com a sessão encerrada sem ainda as assinaturas para a abertura da CPI, sem resposta e sem fala de Rillo, o plenário se tornou uma “trincheira” – para expor a indignação das trabalhadoras. A tropa de Montenegro, frustrada, esbravejou contra o que consideraram um silenciamento político premeditado. A base do governo, por sua vez, respirou aliviada. O risco havia sido contido — por enquanto.
O teatro político exposto: vaia, fé e fogo cruzado
A terça-feira que prometia CPI se transformou num episódio que escancarou não apenas as divisões internas da Câmara, mas também o uso do regimento e da emoção como armas políticas.
Bruno Moura, vaia após vaia, virou personagem central. Ao “profetizar” o fim da sessão e não se curvar à pressão popular, mostrou que o Legislativo não é, necessariamente, um palco onde se vence pela gritaria. Sua recusa em assinar a CPI na tentativa de desidratar o movimento pró-investigação.
Do outro lado, a oposição, liderada por Montenegro e Rillo, agora busca nova estratégia. Sabem que CPI não se abre apenas com indignação. É preciso assinaturas. E assinatura exige articulação.
E agora, Rio Preto?
A sessão terminou, mas a crise não. A CPI não foi aberta, mas a instabilidade política se aprofundou. O prefeito Coronel Fábio Cândido observa, à distância, uma Câmara em convulsão, marcada por divisões internas, disputas de narrativa e uma população cada vez mais atenta — e exigente.
Luciano Julião, ao encerrar a sessão sem debate final, agora carrega a pecha de presidente que apagou a luz no meio da peça. Um misto de herói e vilão que faria qualquer camaleão ficar vermelho de raiva. E Montenegro, que já se vê como perseguido, saiu da sessão sem a CPI, mas com o papel de opositor martirizado ainda mais consolidado entre seus apoiadores. “O senhor não poderia fazer isso presidente”, disse Montenegro ao ser contido pela Guarda Municipal, corporação que ele acabou de se afastar para se dedicar ao mandato no Legislativo.
A política em Rio Preto, mais uma vez, provou que sua dramaturgia não tem intervalo. E, ao que tudo indica, o próximo ato será ainda mais intenso. Porque, como bem sabe quem frequenta o plenário: o fogo no parquinho não se apaga tão fácil.
Clique aqui para assistir aos discursos da tribuna da Câmara, incluindo Bruno Moura.