A Polícia Civil de São José do Rio Preto esclareceu um crime brutal registrado na última quarta-feira, 29, que inicialmente foi tratado como lesão corporal, mas que, após investigações conduzidas pelo 46º Distrito Policial, passou a ser investigado e tipificado como tentativa de feminicídio.
A vítima, uma jovem de 18 anos, foi esfaqueada sete vezes na região abdominal ao descer de um ônibus próximo de sua casa. O autor do crime é o namorado da jovem, de 19 anos, que, segundo a polícia, não aceitava a gravidez de aproximadamente seis semanas.
Premeditação e crueldade
De acordo com o delegado responsável pelo caso, o delegado Seccional, Antônio Honório do Nascimento, o autor planejou o ataque com a ajuda de um amigo, combinando um falso encontro com a jovem após o expediente de trabalho dela, por volta de meia-noite, em um local ermo da cidade. A estratégia era que um dos rapazes segurasse a vítima enquanto o outro a atacava com um canivete.
“Segundo ele mesmo declarou, a intenção era atingir o feto. Ele queria que ela abortasse, e como ela se recusou, decidiu resolver à força. No celular da vítima havia mensagens trocadas em que ela dizia que assumiria a criança sozinha, até mudaria de estado”, relatou o delegado.
Após o ataque, os suspeitos deixaram roupas sujas de sangue e o canivete usado no crime próximo do local onde moram. A vítima foi socorrida por vizinhos e encaminhada ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia e permanece internada em estado grave, mas não perdeu o bebê, conforme informações atualizadas da polícia.
Câmeras ajudaram na investigação
As imagens de câmeras de segurança foram fundamentais para o avanço das investigações. Elas captaram o momento do ataque e ajudaram a identificar os suspeitos, que foram levados ao 46º DP para interrogatório. Ambos confessaram o crime. A prisão temporária foi decretada ainda na noite de quinta-feira (29).
“A princípio, a jovem afirmou que não conhecia os agressores, dizendo que poderia ter sido um assalto. Mas depois, diante das provas e da confissão, ela acabou confirmando a identidade do autor”, explicou o delegado. A mudança de versão, segundo ele, não caracteriza crime, mas é compreendida como fruto do medo de represália.
Classificação do crime e implicações legais
Os dois rapazes, ambos com 18 e 19 anos, sem antecedentes criminais, foram indiciados por tentativa de feminicídio, um crime autônomo previsto na legislação brasileira, com pena de até 40 anos, caso fosse consumado. Como se trata de tentativa, a pena é reduzida, mas pode haver agravantes, como o fato de a vítima estar grávida e a participação de coautor.
“Tentar atingir o feto com golpes de faca é algo que, em 39 anos de polícia, nunca vi”, declarou Dr. Gustavo. “Foi uma tentativa de matar a jovem e o bebê ao mesmo tempo. Por enquanto, legalmente, o feto ainda não configura uma segunda vítima de tentativa de homicídio, mas a gravidade da ação é indiscutível.”
Medo e silêncio
O delegado também comentou sobre o impacto psicológico da violência sofrida e a dificuldade das mulheres em denunciar seus agressores.
“Não acredito que tenha sido por amor, mas sim por medo. Medo de represália. Medo de ser morta. Ela sabia com quem tinha se envolvido.”
O amigo do agressor, segundo a polícia, teria sido recompensado para ajudar no ataque. Ambos foram levados ao centro de triagem da Seccional de Polícia Civil da cidade, onde aguardam as próximas diligências.