Investigado como um dos maiores traficantes de cocaína do país, o líder do Cartel do Sul tentou se esconder em São José do Rio Preto, onde adquiriu imóveis e planejou usar negócios de fachada para lavar dinheiro. Segundo a PF e o Gaeco, ele mantinha vida de “empresário bem-sucedido” na cidade, enquanto movimentava milhões em drogas e buscava rivalizar o PCC no Sul do país.
A Operação Hetera, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com o Gaeco do Ministério Público de São Paulo, revelou a tentativa de um cartel de drogas transferir parte de sua estrutura para São José do Rio Preto. O grupo, batizado de Cartel do Sul, seria comandado por um dos traficantes mais influentes do país, que já está custodiado no sistema penitenciário federal. Segundo o promotor de Justiça Tiago Dutra Fonseca, a organização movimentava milhões de reais em cocaína, dominava portos no Paraná e em Santa Catarina e buscou em Rio Preto uma base estratégica para lavar dinheiro por meio de imóveis, galpões e até projetos de uma casa de prostituição e motel de luxo.
De acordo com o delegado da PF Alexandre Manoel Gonçalves, os mandados cumpridos nesta fase miram tanto operadores logísticos, incluindo piloto de avião, quanto comerciantes que emprestaram nomes para aquisição de propriedades. A investigação começou em 2021 e, ao longo da apuração, foram apreendidos 217 quilos de cocaína e uma das maiores quantias de dinheiro vivo já interceptadas em São Paulo: R$ 7,2 milhões e US$ 798 mil em espécie, escondidos em um caminhão.
O delegado explicou que o grupo chegou a cogitar a instalação de pistas clandestinas na região de Rio Preto para ampliar a logística do tráfico. Além do transporte aéreo, a quadrilha se valia de caminhões registrados em nome de motoristas de fachada e utilizava imóveis rurais para ocultar dinheiro. “Estamos lidando com uma organização criminosa multimilionária. Combater esse tipo de rede exige atacar o capital que a sustenta”, disse Gonçalves.
Já o advogado criminalista Augusto Mendes Araújo, que representa um dos detidos, classificou as prisões como desnecessárias e baseadas em fatos antigos. Ele afirmou que seu cliente já usava tornozeleira eletrônica em decorrência de outra fase da investigação e que não haveria fatos novos que justificassem a custódia. “A prisão deve ser sempre a última medida cautelar. Vamos pedir a revogação porque não há contemporaneidade nos fatos”, declarou.
O caso também levanta discussões sobre os limites do processo penal. O advogado questionou o uso de provas obtidas por inteligência artificial em investigações recentes no país, citando risco de interpretações enviesadas. Para ele, a operação Hetera evidencia a necessidade de rigor no combate ao crime organizado, mas também reforça o alerta contra possíveis abusos.
