Perícia em vídeos indica reviravolta em acusação de injúria racial contra Fábio Marcondes 

Rodrigo Lima
Laudo técnico aponta que expressão atribuída a Fábio Marcondes não contém elementos fonéticos da palavra “macaco”. Análise identificou edição em vídeo jornalístico, mas sem alteração da ordem dos fatos. Trecho foi interpretado como “Paca, véa! Lixo! Véa!”/imagem – Jennifer Maciel

O Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil de São Paulo concluiu o laudo pericial sobre os vídeos que envolvem o vice-prefeito de São José do Rio Preto, Fábio Marcondes, em uma acusação de injúria racial após o jogo entre Mirassol e Palmeiras, realizado em fevereiro de 2025. A análise técnica concentrou-se em trechos de vídeos que circularam com legendas apontando para uma suposta fala racista dirigida a um segurança do clube alviverde. O documento foi divulgado nesta terça-feira, 6.

A perícia identificou dois trechos principais para análise. Com o uso de análise espectrográfica e fonética forense, o laudo indica que não foram encontrados elementos sonoros compatíveis com a palavra “macaco” – como a “nasalidade na vogal inicial, oclusiva bilabial sonora [m] e a sequência vocálica /a-a/”. A perícia concluiu ainda que os sons proferidos são mais próximos da expressão “paca, véa! lixo! véa!”, não havendo correspondência técnica com a expressão “macaco velho, lixo velho”. A transcrição fonética registrada no laudo foi: [ˈpakɐ ˈvɛɐ] ˈliʃu [ˈvɛɐ]

Segundo o exame, os elementos fonéticos e articulatórios da expressão em análise não sustentam a transcrição indicada nas legendas de alguns vídeos divulgados. A conclusão pericial ressalta que “legendas de vídeos não são tecnicamente válidas como prova de conteúdo verbal se não estiverem corroboradas por análise fonética especializada”.

Análise de edição dos vídeos
A perícia avaliou dois arquivos: o vídeo jornalístico com 17 minutos de duração e o vídeo bruto com 1 minuto e 36 segundos. No vídeo jornalístico, a equipe técnica identificou edições características de material produzido para TV, como:

  • Inserção de narração sobre imagens;
  • Supressão de áudio ambiente;
  • Aplicação de efeitos sonoros como “bipe” sobre xingamentos;
  • Inserção de legendas

Essas intervenções foram classificadas como de natureza editorial e não indicam, por si, adulteração dolosa. A sequência dos eventos foi preservada, e a linha do tempo das ações se manteve coerente com a gravação original.

Já outro vídeo analisado pelos investigadores, embora contenha legendas sobrepostas, “não apresenta sinais de edição que alterem a sequência dos fatos, tampouco cortes de áudio ou imagem”. O arquivo manteve continuidade acústica, coerência de ruído ambiente e integridade estrutural, de acordo com os critérios técnicos de fonética forense e análise audiovisual.

Atribuição de Voz
A análise técnica também avaliou a autoria das falas proferidas. Por meio da sincronização entre imagem e som, foi possível associar as expressões como “lixo”, “vai embora, lixo”, e “lixão” ao mesmo indivíduo identificado nas imagens – um homem de camiseta branca e óculos, localizado à esquerda do enquadramento – no caso Marcondes.

De acordo com a perícia, em relação à fala que consta legendada como “macaco velho, lixo velho”, a perícia não validou essa transcrição. Apesar do indivíduo estar de costas no momento da fala, fatores como timbre vocal, ritmo, entonação e padrão espectral indicam que as falas analisadas provavelmente são do mesmo locutor identificado anteriormente, mas sem confirmação da expressão racial mencionada nas legendas. .

Comparações entre vídeos
A perícia comparou os dois arquivos. Apesar de ambos tratarem do mesmo evento, o vídeo jornalístico apresenta edições e cortes típicos da narrativa televisiva, como:

Supressão de trechos do áudio ambiente;

Inclusão de narração;

Inserção de legendas explicativas.

Segundo o laudo pericial, essas alterações não comprometeram a compreensão dos fatos nem indicam manipulação da ordem cronológica. “As imagens e sons dos trechos entre 3min06s a 4min05s e entre 13min49s a 14min48s, por exemplo, foram identificados como idênticos em conteúdo e estrutura, reforçando a linearidade dos registros”, consta no documento a qual o Diário do Rodrigo Lima teve acesso.

Conclusão Técnica
O laudo, assinado digitalmente por perita criminal da Polícia Científica em 25 de abril de 2025, e protocolado oficialmente em 6 de maio, concluiu que:
– Não há evidência técnica de que a expressão “macaco velho, lixo velho” tenha sido proferida nos trechos analisados;
– As falas foram interpretadas como “paca, véa! lixo! véa!”;

– O vídeo jornalístico passou por edição editorial compatível com práticas jornalísticas usuais, sem alteração do conteúdo factual;

– O vídeo bruto analisado não apresentou manipulação de áudio ou imagem que pudesse alterar o contexto original;

– As falas identificadas foram atribuídas ao mesmo indivíduo em ambos os trechos com base na sincronia audiovisual e nos parâmetros vocais;

– As legendas inseridas nos vídeos não encontram respaldo técnico na análise fonética realizada.

Nota oficial
Em nota, o advogado de Marcondes, Edlênio Xavier Barreto, afirma o seguinte: “o laudo pericial, elaborado pelo Instituto de Criminalística, reforça a correção da estratégia adotada pela defesa, ao não convalidar prova tecnicamente imprestável, e corrobora a tese de inocência de Fábio Ferreira Dias Marcondes”.

“No mais, a fim de manter coerência na atuação, atentando-se a prudência e responsabilidade, a defesa informa que irá manifestar-se de maneira formal e detalhada nos autos do processo, em momento oportuno”, consta na nota.

Deixe um comentário

Isso vai fechar em 37 segundos