Funeral de papa Francisco reúne mais de 250 mil pessoas no Vaticano

Rodrigo Lima
Milhares participaram do funeral do Papa Francisco/imagem – reprodução

Mais de 250 mil pessoas participaram neste sábado (26) do funeral do papa Francisco, segundo informações do Vaticano. A cerimônia teve início na Praça de São Pedro, com a Missa das Exéquias, e foi encerrada em ato reservado na Basílica de Santa Maria Maggiore, após um cortejo de 5,5 quilômetros.

O caixão, fechado, foi colocado diante do altar externo da Basílica de São Pedro e recebido com aplausos pelos fiéis que, desde a madrugada, ocupavam a praça. Grupos de jovens chegaram a dormir no local para garantir um bom lugar na despedida de Jorge Mario Bergoglio.

Por volta das 5h40 (0h40 de Brasília), a multidão já se aglomerava nas imediações. Pouco depois, os portões foram abertos e o acesso liberado. Com o amanhecer, a Praça de São Pedro ficou completamente tomada. Detectores de metal foram instalados nas vias de acesso, e a polícia realizava revistas em mochilas e solicitava que os fiéis bebessem água de suas próprias garrafas como medida de segurança.

Cerca de 50 chefes de Estado acompanharam o funeral. Entre eles, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente da Argentina, Javier Milei, além de dez monarcas de diferentes países. Minutos antes das 8h locais (3h de Brasília), o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, também chegou a Roma para participar da cerimônia. Inicialmente, ele havia sinalizado que não compareceria por “falta de tempo”.

A celebração foi conduzida por Giovanni Battista Re, decano do Colégio dos Cardeais. Próximos ao altar, estavam 220 cardeais, 750 bispos e cerca de 4 mil padres.

Durante a homilia, Battista Re descreveu Francisco como “um papa do povo, de coração aberto a todos”, e ressaltou seu estilo de comunicação informal. O cardeal lembrou que a última imagem que muitos fiéis guardam de Francisco é a da bênção final no Domingo de Páscoa, realizada na mesma Praça de São Pedro.

O cardeal destacou ainda o empenho do papa em favor dos pobres, dos refugiados e deslocados, reforçando o lema adotado por Francisco ao longo de seu pontificado: “construir pontes, não muros”.

Em vários momentos, a homilia foi interrompida por aplausos da multidão, especialmente quando Battista Re mencionou o compromisso do pontífice com a paz mundial. O cardeal afirmou que Francisco levantou sua voz em defesa da vida e denunciou as tragédias provocadas pelas guerras, reiterando que “a guerra é sempre uma derrota dolorosa e trágica para todos”.

Após a homilia, as orações dos fiéis foram entoadas em seis idiomas: francês, árabe, português, polonês, alemão e mandarim.

Rituais da fé católica marcaram cerimônia
A celebração foi marcada por diversos rituais da fé católica, que despertaram a atenção dos fiéis e visitantes. O corpo do papa Francisco foi abençoado durante a missa antes do sepultamento na Basílica de Santa Maria Maggiore.

Entre os rituais presentes, destacaram-se:

Homilia
A homilia é o momento da missa em que o sacerdote explica o Evangelho e desenvolve uma reflexão. A palavra “homilia” vem do grego e significa “conversa”. Na celebração, Giovanni Battista Re ressaltou o perfil de Francisco como líder próximo ao povo e atento às necessidades do mundo contemporâneo.

Orações em latim
Algumas orações foram feitas em latim, língua universal da Igreja Católica. Conforme explica o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma), a missa é rezada em latim quando há fiéis de diversas origens, como expressão da unidade católica.

Antes da comunhão, foi rezado o Pai Nosso em latim, oração central do cristianismo, reconhecida como “a oração que Jesus ensinou”.

Comunhão
O sacramento da comunhão foi distribuído a todos os fiéis presentes na Praça de São Pedro. Para os católicos, a hóstia consagrada representa o corpo de Cristo, dado em alimento espiritual e sinal de vida eterna.

Segundo o padre José Eduardo, “depois da Consagração, o pão se converte na carne do Senhor”, reforçando a importância da comunhão durante a missa.

Ladainha
A ladainha, momento em que se pede a intercessão dos santos pela alma do falecido, também foi realizada. A oração do “Credo” remete a essa comunhão entre a Igreja militante (na Terra), padecente (no purgatório) e triunfante (no céu).

O padre José Eduardo explica que, diante da incerteza sobre a situação da alma, a Igreja reza pedindo a purificação e acolhimento do papa.

Ofício de Defuntos
O Ofício de Defuntos é o conjunto de preces da Igreja pelos mortos. Durante o funeral, representantes das Igrejas Católicas do Oriente também participaram. O rito incluiu preces em latim e grego, simbolizando a união entre as tradições do Ocidente e do Oriente, conforme a tradição citada por São João Paulo II.

Responsório e rito das exéquias
No ritual das exéquias, foi realizada a oração responsória, momento em que versos são recitados alternadamente entre o sacerdote e a assembleia. O corpo do papa foi aspergido com água benta e incensado, em sinal de purificação e oração pela alma.

Segundo o padre José Eduardo, a água recorda o batismo e o incenso simboliza as preces que se elevam até o céu. O rito expressa a fé católica na ressurreição dos mortos.

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