“Faltam adjetivos para descrever a cena encontrada naquele apartamento, tamanha barbárie e horror a que ela foi submetida, mesmo para os profissionais desta Delegacia Especializada em Homicídios, que com recorrência lidamos com casos assim, não é possível imaginar algo assim, ainda mais com quem se mantinha um relacionamento ‘amoroso’ há anos”. Essa foi a conclusão do relatório do delegado de Homicídios da Delegacia Especializada de Investigação Criminal (Deic), Alceu Lima de Oliveira Junior, ao relatar a cena que encontrou no apartamento da médica Thalitta da Cruz Fernandes, que foi encontrada morta dentro de uma mala no dia 18 de agosto.
Segundo Oliveira Júnior, o que foi visto por ele e pela equipe foi “estarrecedor”. O Diário do Rodrigo Lima teve acesso com exclusividade ao relatório da investigação que culminou, nesta semana, com a denúncia do Ministério Público contra Davi Izaque Martins pelos crimes de homicídio qualificado por motivo torpe, crueldade, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio, assim como por tentativa de ocultação de cadáver.
No documento, o delegado revela detalhes da investigação que foi iniciada com buscas de imagens do circuito de monitoramento do prédio e constatou que a única pessoa a entrar e a sair daquele local, até o encontro do corpo – dentro da mala e naquelas circunstâncias, foi seu namorado, Davi.
“Em análise pormenorizada nas imagens, vemos Davi chegando no apartamento por volta das 5h07m do dia 18/08/2023, inferimos que o crime tenha ocorrido logo cedo, na chegada de Davi no apartamento, coincidindo com a breve discussão relatada por testemunhas”, consta em trecho do relatório.
De acordo com o delegado, “durante o período em que Davi permaneceu no local (das 5h07m de sua chegada ali, até às 16h14m), deduz-se que foi o tempo em que ocorreu o ‘horrendo crime’.”
Para os investigadores, caso o zíper da mala não se rompesse, e a família e uma amiga não tivessem procurado por Thallita tão rapidamente, acionando a Polícia Militar, “Davi sumiria com o corpo dela e se isentaria de qualquer participação”.
Diante do cenário de horror encontrado no apartamento, o delegado decidiu pedir a prisão temporária do acusado ainda durante a madrugada. “Cabe ressaltar que esta equipe trabalhou ininterruptamente até o desfecho da prisão de Davi, sendo que encetamos diversas diligências inclusive em cidades próximas da região, sendo que sua prisão culminou no dia posterior, pela Polícia Militar, na casa de sua mãe, onde ele foi devidamente preso e encaminhado a esta especializada para os serviços de polícia judiciária”, consta no relatório.
De acordo com o delegado, Davi em um primeiro momento disse que não se recordava de nada, pois estava sob efeito de álcool e drogas, porém, posteriormente, acabou confessando o delito perpetrado contra sua namorada, dando detalhes. “Disse que durante aquela noite havia ido com amigos em um bar que costumava trabalhar, ficando durante toda a madrugada, trabalhando, bebendo e usando drogas”, consta em outro trecho do relatório.
Mensagens de Thalitta
O delegado concluiu na sua manifestação que Thalita havia mandado diversas mensagens para ele (Davi), “indignada pelo fato do único dia que eles teriam para ficarem juntos na semana (já que ela estava em sua folga), seu namorado resolve sair de casa para farrear a deixando sozinha.”
“Reclamava que era maltratada por ele, sendo deixada constantemente de lado, e que ele seria um sangue suga dela, que só estava aproveitando da boa vida que ela proporcionava a ele, fatos estes, posteriormente constatados no celular da vítima que fora encontrado no local e que Davi ao ser preso, sabia sobre a senha e tudo mais”, escreveu o delegado de Homicídios no documento.
No dia do crime, delegado aponta que “Thalitta teria dito a ele que não queria mais continuar com o namoro, que ele era um aproveitador e estava com ela somente para se aproveitar, relatando um suposto ciúme de Thalitta e quando chegou, perpetrou o fato”.
“Davi disse que se utilizou de três facas para o ato, sendo que era possível constatar inúmeras perfurações de faca (mais de trinta), em toda a face da vítima, pescoço, costas, mãos e braços, e com indicativos de violência sexual pós mortem (a se confirmar pelo Instituto de Medicina Legal – I.M.L.)”, consta no relatório do delegado.
A denúncia do Ministério Público foi protocolada sem o laudo que deve indicar se houve ou não possível crime de vilipêndio a cadáver. Existe a suspeita de que o rapaz teria abusado do corpo da vítima após matá-la.
Novo HC
O advogado de Davi, Gustavo Godoy, impetrou novo pedido de Habeas Corpus (HC) no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) com pedido de liminar para anular a decisão que decretou a prisão preventiva do acusado, com a expedição de alvará de soltura em seu favor. O pedido foi rejeitado pelo TJ.
Godoy afirmou nesta sexta-feira, 29, que pretende recorrer dessa decisão junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Além disso, o advogado afirmou que vai aguardar o julgamento do mérito do HC pelo próprio TJ.
Em relação ao conteúdo do relatório da investigação da Polícia Civil, Godoy afirmou que não irá se manifestar porque o caso está em segredo de Justiça.