A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Rio Preto conseguiu esclarecer, com base em provas técnicas, oito casos de crimes sexuais cometidos entre 2021 e 2022 na cidade. A identificação do suspeito, que está atualmente preso no Pará, foi possível graças ao cruzamento de dados genéticos no Banco Nacional de Perfis Genéticos. Entre as vítimas, estão três crianças – uma de 8 anos, outra de 11 e uma adolescente de 15 anos na época dos crimes.
De acordo com a delegada Dálice Ceron, a investigação foi impulsionada por registros de boletins de ocorrência semelhantes, com padrões de abordagem e violência que chamaram a atenção das autoridades. Em todos os casos confirmados em Rio Preto, o suspeito invadia residências ou abordava vítimas com o uso de faca, inclusive uma delas em uma passarela sobre a Rodovia Washington Luís.
O trabalho envolveu a coleta de vestígios genéticos – como sêmen – em cenas dos crimes. Esse material foi enviado ao Núcleo de Química e Biologia de São Paulo, responsável por integrar os dados ao Banco Nacional de Perfis Genéticos. A delegada informou que, mesmo em situações em que a quantidade de material genético é pequena, o trabalho minucioso dos peritos permitiu a extração e cruzamento dos dados, possibilitando a identificação do autor em três dos primeiros boletins.
A investigação avançou quando o homem apresentou um documento falso no estado do Pará, levantando suspeitas e motivando a coleta de seu DNA. O perfil genético coincidiu com os materiais enviados anteriormente por Rio Preto, estabelecendo o elo entre o investigado e os crimes locais. Posteriormente, a equipe da DDM passou a trabalhar em conjunto com as polícias do Pará e do Espírito Santo, onde o mesmo indivíduo é investigado por práticas semelhantes.
A delegada destacou o trabalho da investigadora Aline, que manteve contato com as delegacias interestaduais e obteve imagens do suspeito. Com base nas fotografias e no reconhecimento fotográfico por parte das vítimas, não restaram dúvidas sobre a autoria. “As vítimas foram muito firmes no reconhecimento, o que reforçou a consistência das provas já existentes nos inquéritos”, afirmou Dálice
O homem, de 34 anos, é natural de Altamira (PA). Segundo a delegada, ele teria fugido para o Espírito Santo após praticar crimes no Pará e, em seguida, chegou a São José do Rio Preto, onde cometeu os delitos que motivaram os inquéritos na cidade. Posteriormente, ele retornou ao Pará, onde foi preso e atualmente cumpre pena superior a 20 anos por crimes sexuais.
As investigações mostraram que o suspeito usava uma motocicleta para circular por diferentes bairros de Rio Preto, como Vila Boa Vista, Caetano e Vila Versília. Ele costumava observar a rotina das casas, esperando o momento em que os responsáveis saíam para agir. Em um dos casos, abordou uma jovem que trabalhava como babá com o pretexto de alugar o imóvel. Posteriormente, invadiu o local e a obrigou a manter relação sexual, mesmo com duas crianças no interior da casa.
De acordo com a delegada, a tecnologia foi determinante para o sucesso das investigações. Ela ressaltou a importância da preservação dos vestígios nas cenas de crimes, como roupas e lençóis com traços de material genético, e orientou que as vítimas evitem a higiene corporal antes de passarem por atendimento médico. “O trabalho técnico foi fundamental para ligar os casos. A inclusão no banco nacional nos permitiu confirmar o elo entre o autor e os crimes cometidos”, afirmou.
Dálice também ressaltou a possibilidade de que outras vítimas possam ter sofrido abusos do mesmo homem, uma vez que ele circulou por diversos estados. Ela incentivou que essas mulheres procurem as autoridades. “Por pudor, muitas vítimas não registram ocorrência. Mas esse é um passo importante para impedir que novos crimes aconteçam e para que o autor responda por todos os seus atos”, declarou.
O suspeito já declarou à polícia que sofre de compulsão sexual e relatou que foi desligado do Exército após episódios de exibicionismo. Em Rio Preto, ele mantinha aparência discreta, atuando como captador de clientes para seguros automotivos e frequentando hospitais. Uma das imagens de câmeras de segurança o flagrou com a mesma camisa utilizada no momento de sua prisão, o que contribuiu para reforçar a identificação.
A delegada relatou que os três inquéritos policiais em andamento já foram concluídos e relatados ao Judiciário, com pedido de prisão preventiva do acusado pelos crimes cometidos em Rio Preto. Ele deverá responder por essas novas acusações mesmo enquanto cumpre pena no Pará.
A Polícia Civil segue à disposição para receber novas denúncias, especialmente de mulheres que possam ter sido vítimas do mesmo autor.