O Festival Internacional de Teatro (FIT) de São José do Rio Preto chega à sua 56ª edição em 2025 com uma proposta ousada: fortalecer as companhias locais, descentralizar as ações culturais e, sobretudo, formar um novo público para o teatro. O evento, que ocorre entre os dias 17 e 26 de julho, terá pela primeira vez na história dez companhias da cidade participando da programação oficial.
O anúncio foi feito pelo secretário de Cultura de Rio Preto, Robson Vicente, conhecido como Robinho, durante entrevista ao Podcast Diário do Rodrigo Lima. Segundo ele, o objetivo é tornar o FIT uma vitrine tanto para os grupos locais quanto para produtores, olheiros e artistas de outras partes do país e do mundo.
“Para mim, a conta não fechava. Como que companhias que são daqui, que pagam seus impostos, que têm história na cidade, não estavam dentro do FIT? Era uma pergunta que eu me fazia. Agora chegou o momento de mudar isso”, afirmou o secretário.
A cultura que chega aos bairros
Desde que assumiu a pasta no início da gestão do prefeito Coronel Fábio Cândido (PL), Robinho afirma ter como prioridade descentralizar a cultura. A experiência que o marcou foi durante o Janeiro Brasileiro da Comédia, quando um pai emocionado agradeceu por poder levar os filhos a um espetáculo gratuito no próprio bairro, algo que antes, segundo ele, não cabia no orçamento familiar.
“Aquilo me deu a certeza de que estou no lugar certo. Esse é meu propósito: levar cultura para quem mais precisa, onde mais faz falta”, disse.
Segundo o secretário, essa política já foi aplicada em eventos recentes, como o aniversário da cidade e continuará no FIT 2025. A proposta é incluir apresentações em regiões periféricas, como Vila Toninho, SetSul, Talhado e Engenheiro Schmitt.
Política, cultura e diálogo
Ao ser questionado sobre como é gerir a cultura representando um governo de direita — tradicionalmente visto como distante das pautas culturais —, Robinho foi direto: “A cultura é maior que qualquer bandeira ideológica. Quem estava antes fez sua parte, dentro de sua visão. Agora é nossa vez de fazer, com diálogo e olhando para todos.”
Ele afirma que, desde o início, abriu as portas da secretaria para conversas, inclusive com grupos que, segundo ele, temiam que a cultura fosse extinta sob uma gestão conservadora. “Ao contrário, nossa missão é fortalecer a cultura. O artista quer trabalhar, e a população tem o direito de receber cultura, afinal, estamos lidando com dinheiro público”, reforça.
FIT quer criar público e gerar economia criativa
O FIT 2025, que se tornou internacional há 24 anos, é considerado a joia da coroa da cultura rio-pretense. Além das dez companhias locais, a edição deste ano trará grupos internacionais e nacionais, mantendo a tradição de diversidade cultural. O lançamento oficial da programação está marcado para 25 de junho.
“O conceito desse ano é formar público. Queremos que as pessoas, principalmente quem nunca foi ao teatro, se apaixonem. E, a partir daí, essas pessoas passem a frequentar as companhias da cidade. É um ciclo que beneficia todo o ecossistema cultural”, explicou Robinho.
Além das apresentações, o FIT terá oficinas, rodas de conversa e atividades que promovem a chamada economia criativa, aproximando artistas e fomentando negócios culturais.
Desafio orçamentário e avanços
Sobre a discussão na Câmara Municipal em torno do repasse de 1% do orçamento municipal para a cultura, Robinho adota uma postura pragmática. “Todo secretário quer mais recursos, isso é fato. Se o STF decidir que deve ser 1%, ótimo. Mas, hoje, qualquer aumento precisa ser feito com responsabilidade, porque vai ter que sair de algum lugar. Estamos arrumando a casa.”
Ainda assim, ele aponta avanços. O edital Nelson Seixas, por exemplo, recebeu aumento: passou de R$ 1,3 milhão para R$ 1,5 milhão em 2025, ampliando a quantidade de artistas contemplados e, segundo ele, democratizando o acesso aos recursos.
Uma novidade desse edital é o estímulo a projetos de novos artistas, pessoas que nunca haviam recebido financiamento cultural ou que estão há menos de dez anos na cena artística da cidade.
Aldir Blanc, Virada Cultural e ocupação dos espaços
A gestão também prepara o lançamento do edital da Lei Aldir Blanc, que deve injetar mais de R$ 3 milhões na cultura rio-pretense. “Já está na PGM (Procuradoria Geral do Município) para análise jurídica. São mais de R$ 3 milhões circulando na cidade através de projetos culturais”, afirma.
Outro projeto em desenvolvimento é a retomada da Virada Cultural, que está no planejamento para acontecer em 2025, com foco na valorização dos artistas locais.
“O município tem espaços incríveis que precisam ser ocupados, como o anfiteatro do Jardim Suspenso, a Arena do Recinto de Exposições e muitos outros. Estamos desburocratizando o acesso a esses espaços para facilitar que os próprios artistas possam realizar eventos, oficinas e espetáculos”, acrescenta.
“A cultura não tem lado”
Ao fim da entrevista, Robinho reforça que seu compromisso é com o desenvolvimento cultural da cidade, acima de qualquer disputa ideológica. “Cultura é pertencimento, é identidade, é geração de renda. Quando ela chega para quem realmente precisa, ela transforma vidas.”
O FIT 2025, segundo ele, é a expressão máxima dessa visão: tradição, inovação e inclusão social reunidas no maior evento cultural da cidade.