PODCAST – Cardiologista quer popularizar o uso de desfibriladores para salvar vidas em Rio Preto; Coronel Fábio apoia o projeto

Rodrigo Lima

A cardiologista Lilia Nigro Maia, médica do Hospital de Base de Rio Preto, participou do Podcast Diário do Rodrigo Lima para apresentar um projeto ambicioso: popularizar o uso de desfibriladores automáticos na cidade e na região. Em uma conversa de quase 30 minutos, a médica explicou a importância da ação rápida em casos de parada cardíaca e a necessidade de ampliar o acesso e o treinamento da população para salvar vidas.

“Eu venho aqui por uma boa causa. Cada minuto conta”, afirmou a doutora Lilia logo na abertura do episódio.

Durante a entrevista, a médica explicou que em casos de parada cardíaca, os primeiros minutos são decisivos. “Uma vez que uma pessoa tem uma parada na rua, ou em qualquer outro local, ela tem aproximadamente 10 minutos para ser atendida. No primeiro minuto, ela tem 90% de chance de se recuperar sem sequela. À medida que o tempo passa, ela vai perdendo 10% de chance de sair bem a cada minuto”, explicou.

Segundo a especialista, em dez minutos sem atendimento, a chance de sobrevivência é praticamente zero. A situação em Rio Preto preocupa. “Nosso SAMU é excelente, mas ele não consegue chegar antes de 20 a 40 minutos no local do chamado”, relatou.

Treinamento da população e projeto de equipar viaturas da GCM
Para mudar esse cenário, a médica e seu grupo criaram um projeto com dois principais objetivos: treinar o maior número possível de pessoas para realizar a massagem cardíaca de forma correta e instalar desfibriladores automáticos nas viaturas da Guarda Civil Municipal (GCM), que conseguem chegar aos locais entre três e cinco minutos.

O treinamento é simples e rápido, destacou a médica: “Um treinamento simples que demora coisa de 15 minutos para aprender a fazer a massagem cardíaca”. Ainda, o grupo liderado pela cardiologista visa conscientizar a população: “Todo mundo pode salvar uma vida”.

O projeto ganhou força com apoio do vereador Júlio Donizete, que destinou emenda parlamentar para a aquisição dos primeiros equipamentos. “Ele está disposto a doar uma verba dele para a compra dos primeiros equipamentos. Cada equipamento custa em média 10 mil reais. Nós queremos pelo menos equipar 30 GCMs, mas no começo ele tem a verba para equipar 10.”

Histórias reais: vidas salvas com treinamento
Lilia compartilhou dois casos emocionantes que motivaram ainda mais o projeto. O primeiro ocorreu há seis meses, quando o médico intensivista Hélder Sanches salvou um amigo que sofreu uma parada cardíaca durante um jogo de tênis. “O Samu demorou 40 minutos para chegar, e durante todo esse tempo o Hélder manteve a massagem cardíaca. Quando o Samu chegou, assumiu brilhantemente e o paciente se recuperou totalmente.”

Outro caso envolveu um jovem que teve uma parada cardíaca no Clube Monte Líbano. “O primeiro atendimento foi feito por um funcionário que tinha recebido treinamento dois meses antes, em um evento organizado por nós. A vida desse jovem foi salva”, contou, emocionada.

Apoio da Prefeitura e novos passos
A médica relatou uma reunião recente com o prefeito Coronel Fábio Candido (PL) para apresentar o projeto. “Foi o melhor possível. O nosso prefeito foi extremamente atencioso, ouviu, deu sugestões excelentes, pegou tudo muito rápido, com muita facilidade. No dia seguinte já pôs a mão na massa”, disse Lilia.

Uma força-tarefa foi criada para estruturar o projeto, envolvendo o SAMU, a GCM, a Secretaria da Saúde e demais autoridades municipais. A meta é transformar Rio Preto em modelo nacional de resposta a paradas cardíacas, semelhante ao que acontece hoje em São José dos Campos.

A médica ainda fez um apelo para que outros vereadores e deputados também apoiem a iniciativa. “Nós temos 22 vereadores, fora o Júlio. Senhor vereador, por favor, nos ajude. Nós podemos nos tornar um modelo de atendimento de parada cardíaca.”

Cultura de salvamento: desafios e propostas
Outro desafio apontado por Lilia é vencer a falta de cultura de emergência no Brasil, além de evitar o vandalismo dos equipamentos. “Nos Estados Unidos, o desfibrilador é tratado como um extintor de incêndio. Aqui, muitos equipamentos ficam trancados. Não adianta, ele tem que estar disponível.”

A médica defendeu ações de conscientização e protocolos para proteger os equipamentos. Ela também defendeu treinar crianças em escolas, como ocorre em países desenvolvidos: “As pessoas que mais salvam vidas nos Estados Unidos são as crianças, porque recebem treinamento nas escolas.”

Parada cardíaca não é morte
Lilia reforçou um ponto crucial: parada cardíaca não é morte. “Parada cardíaca é um evento súbito que pode ser reversível. 50% das pessoas que têm infarto morrem na primeira hora. Se agirmos rápido, podemos salvar essas vidas.”

Sobre os sintomas que antecedem uma parada, a médica explicou: “Em geral, a dor é no meio do peito, pode irradiar para a mandíbula, pescoço ou braço. Às vezes é descrita como um aperto ou peso.”

Como buscar treinamento
A cardiologista alertou para cuidados ao buscar informações na internet. “Procurem fontes confiáveis, como a Sociedade Paulista de Cardiologia. Nós temos vídeos educativos lá”, sugeriu.

Além disso, a equipe trabalha com métodos simples e eficazes de treinamento, como o uso de garrafas PET para simular o tórax humano, técnica validada internacionalmente.

O projeto quer expandir ainda mais. A ideia seria até incluir motoristas de Uber, entregadores de iFood e taxistas entre os treinados. “Imagina a sensação de você poder ajudar e salvar uma vida. Não tem preço”, concluiu a médica.

O trabalho da cardiologista Lilia Nigro Maia e de seu grupo já começou a transformar a realidade de Rio Preto – e promete ainda salvar muitas vidas no futuro.

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