Na sede da Mar e Rio Pescados, em Rio Preto, o clima é de otimismo — mas também de muito trabalho. A movimentação no centro de distribuição da empresa não para, e por um bom motivo: mais de 50% de tudo o que o município importou em 2024 passou por aqui.
O Diário do Rodrigo Lima foi recebido por Júlio César Antônio, CEO da Mar e Rio, que abriu as portas da empresa para falar sobre os bastidores do negócio que colocou Rio Preto no radar do comércio internacional. O executivo, conhecido entre os pares como “Julinho”, é hoje um dos principais nomes do setor no Brasil — e explica o impacto direto da operação da empresa na balança comercial da cidade.
Segundo dados do Centro de Estudos Econômicos da Acirp (Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto), as importações totalizaram US$ 173,9 milhões no ano passado, e só os peixes, crustáceos e moluscos representaram impressionantes US$ 94,8 milhões desse total. A empresa importa de 20 países — com destaque para Chile, Argentina, Vietnã, Portugal, Espanha e Marrocos — e atende mais de 9 mil pontos de venda no país, entre supermercados, restaurantes e hotéis.
Julio detalha que, só de salmão, são cerca de 1.100 toneladas por mês: “Importamos de 14 a 15 carretas por semana”, diz. “É um peixe que o Brasil não produz, e que tem demanda crescente. O mesmo vale para bacalhau, merluza, pangasius, frutos do mar. A gente precisa trazer de fora para garantir oferta no mercado nacional.”
Enquanto muitos setores recuam diante da alta da Selic, do dólar instável e da insegurança econômica, a Mar e Rio vai na contramão: está ampliando sua capacidade de armazenagem para 6 mil toneladas e investindo em sua planta industrial em Ipiguá, que fraciona produtos para atender ao varejo com embalagens de até 800 gramas. “Hoje, o varejo é nosso foco. E a gente só consegue crescer com eficiência, qualidade e preço justo”, destaca.
O peso da empresa na economia regional é inegável. Com mais de 600 colaboradores e 150 representantes comerciais espalhados pelo Brasil, Julio também preside a ABRAPS (Associação Brasileira de Fomento ao Pescado), fundada em 2012. “Nosso papel é garantir que o consumidor receba produto de qualidade, sem fraude, sem excesso de água, com rastreabilidade e transparência.”
A relevância da Mar e Rio ajuda a explicar o desempenho da balança comercial de Rio Preto, que em 2024 mostrou fôlego, mesmo diante dos desafios do cenário econômico. Segundo levantamento da Acirp, com base em dados do Ministério das Relações Exteriores e da plataforma ComexStat, as exportações da cidade atingiram US$ 51,9 milhões, um crescimento de 15,19% em relação a 2023.
Entre os produtos mais exportados estão óleos essenciais e resinóides, além de preparações cosméticas e de perfumaria, que sozinhos somaram US$ 11,4 milhões — puxados principalmente por indústrias voltadas ao setor de beleza e bem-estar. Na sequência, a carne e miudezas comestíveis, automóveis e tratores contribuíram com US$ 10,2 milhões e US$ 9,1 milhões, respectivamente, o que revela uma presença relevante do agronegócio e da indústria de transformação local no mercado externo.
Instrumentos e aparelhos de ótica, fotografia e médico-cirúrgicos representaram US$ 4,6 milhões, com destaque para empresas de tecnologia médica instaladas no município. Já os reatores nucleares e caldeiras somaram US$ 3,2 milhões — sinal de que há uma presença consistente do setor industrial de base, com alto valor agregado.
Os principais destinos das exportações de Rio Preto em 2024 foram os Estados Unidos (US$ 11 milhões), Hong Kong (US$ 10,1 milhões) e o Chile (US$ 7,1 milhões), mas o levantamento aponta ainda a presença crescente de mercados como Emirados Árabes Unidos, México e países da União Europeia, o que demonstra uma estratégia clara de diversificação de destinos por parte das empresas locais.
Outro dado importante: houve aumento significativo nas exportações para países da América do Sul, com destaque para Argentina e Colômbia, refletindo um esforço regional de fortalecimento do comércio no bloco do Mercosul.
“As exportações cresceram tanto em valor quanto em variedade de produtos e mercados. Isso mostra maturidade. As empresas rio-pretenses estão inovando, investindo em diferenciais competitivos e ganhando terreno fora do Brasil com produtos de alto valor agregado”, afirma Adnan Jebailey, economista da Acirp.
Jebailey destaca ainda que, em termos de complexidade econômica, Rio Preto avançou: “A cidade não exporta apenas commodities ou produtos primários. Está se posicionando com itens que exigem tecnologia, certificação e padronização internacional. Isso é um passo importante para consolidar o município como um polo de comércio exterior.”
As importações, por sua vez, permaneceram estáveis com uma leve alta de 0,47%, o que garantiu um superávit na balança comercial local — reforçando a competitividade das empresas da região.
É nesse contexto que a Mar e Rio se destaca — por escala, estrutura e ambição. Com os pés fincados em solo rio-pretense e os olhos voltados para o mundo, Julio conclui: “Colocamos São José do Rio Preto na rota do pescado. Uma cidade com tradição em carne suína, bovina e frango, agora é referência em frutos do mar para o Brasil inteiro.”