
Em depoimento na Delegacia Seccional, os três policiais militares afirmaram ao delegado Renato Camacho que não ouviram o vice-prefeito Fábio Marcondes (PL) gritar as palavras que poderiam confirmar a acusação de injúria racial. Eles prestaram depoimento nesta sexta-feira, 14.
Os policiais militares alegaram que devido ao “intenso barulho no estádio, somado ao grande número de pessoas próximas que falavam em voz alta, não foi possível ouvir a suposta injúria racial proferida pelo indivíduo trajando a camisa do Mirassol”. “Além disso, naquele momento, toda a atenção da equipe policial estava voltada para controlar a situação e evitar que a discussão evoluísse para uma briga generalizada, o que poderia colocar em risco a segurança e a integridade física das pessoas presentes, incluindo crianças e mulheres. Que diante da urgência em conter o tumulto, não era possível prever que o indivíduo faria declarações configurando o crime de injúria racial”, consta em um dos depoimentos a qual o Diário do Rodrigo Lima teve acesso.
No dia 23 de fevereiro, Marcondes se desentendeu com um segurança do time do Palmeiras, que teria maltratado seu filho nas proximidades do vestiário do time alviverde. O desentendimento ocorreu logo após a partida entre o time da capital e o Mirassol, na reta final do Paulistão deste ano.
Os policiais militares foram ouvidos como testemunhas, já que estavam no local onde os fatos foram registrados. “Após o apito final, a equipe foi designada para realizar a escolta das delegações, quando se depararam com uma discussão acalorada entre um segurança do Palmeiras e um homem com a camisa do Mirassol, próximo à entrada dos vestiários”, consta no depoimento de um dos policiais, que afirmou ter identificado Marcondes posteriormente.
Os policiais relataram que, “diante do crescente clima de hostilidade, tentaram intervir verbalmente para entender a origem da discussão e tentar acalmar os envolvidos”. Com a situação se intensificando e o risco de um tumulto, os policiais relataram ainda que tomaram medidas para conter o conflito, tentando fechar um portão, enquanto o outro colega se dirigiu às crianças para garantir sua segurança. “No entanto, ele relatou que não conseguiu fechar o portão completamente devido a fios pertencentes às emissoras de televisão”, consta na síntese dos depoimentos.
De acordo com os relatos dos policiais militares, foi então que “membros da delegação do Palmeiras informaram que o homem de camisa do Mirassol teria proferido palavras de injúria racial durante o tumulto”. “O policial e sua equipe, diante da denúncia, tomaram as providências necessárias para o registro da ocorrência e seguiram para a Central de Flagrantes de Mirassol”, consta em um dos depoimentos.
No entanto, os policiais militares esclareceram ainda que, “devido ao grande barulho no estádio e ao tumulto, não foi possível ouvir diretamente a suposta injúria racial”. “Toda a nossa atenção estava voltada para controlar a situação e evitar que a discussão se transformasse em uma briga, o que colocaria em risco muitas pessoas, incluindo crianças”, afirmou.
O policial ainda mencionou que, no momento da confusão, não conseguiu identificar quem estava envolvido na discussão, vindo a saber posteriormente que o indivíduo da camisa do Mirassol era o vice-prefeito de Rio Preto, Fábio Marcondes.
O depoimento segue detalhado com o relato das medidas de segurança tomadas pela equipe, destacando a dificuldade em gerenciar a situação devido ao alto nível de tensão e ao risco iminente de violência. O policial também reiterou que, em momento algum, foi possível reconhecer a injúria racial no meio do caos, e que as ações de sua equipe visavam, prioritariamente, garantir a segurança de todos os presentes.
A repórter e o cinegrafista da TV Tem também prestaram depoimento nesta quinta-feira, 13. A jornalista disse ao delegado que viu Marcondes “bastante exaltado, xingando os seguranças do Palmeiras por motivo de problemas com seu filho, sendo que este motivo foi esclarecido por meio de nota enviada por Fabio Marcondes posteriormente”.
“O segurança pediu pra que ele saísse do estádio para se acalmar, porém, Fábio Marcondes ficou ainda mais nervoso e proferiu ainda mais xingamentos. No momento dos fatos visualizou o investigado proferindo os impropérios ‘lixo’ e ‘seu merda’. Posteriormente ao analisar o vídeo gravado, mesmo estando de costas, conseguiu perceber o momento em que ele proferiu o termo ‘macaco velho'”, disse ela.
O cinegrafista disse que ouviu varias vezes sendo dito para Fabio Marcondes “vai embora daqui”, ouvindo também por varias vezes que o vice-prefeito se dirigiu as pessoas xingando de “lixo”. “Posteriormente ao analisar o vídeo gravado, mesmo estando de costas, conseguiu perceber o momento em que ele proferiu o termo ‘macaco velho'”, consta no depoimento do cinegrafista.
A emissora enviou ofício para a Delegacia Seccional que não possui o vídeo com as imagens brutas captadas no dia do episódio, mas apenas as imagens editadas exibidas nos seus telejornais. O advogado criminalista Augusto Mendes Araújo avalia que o vídeo editado ser usado como prova pode ter sua validade questionada pela defesa de Marcondes, que nega ter cometido o crime.
Filho de Marcondes também prestou depoimento
O filho de Marcondes também prestou depoimento na delegacia Seccional de Rio Preto. Ele afirmou que foi com um amigo nas proximidades do vestiário do Palmeiras com o objetivo de conseguir fazer uma fotografia com algum jogador.
“Um dos seguranças, de forma agressiva, se aproximou do declarante dando passos largos, enquanto os outros ficaram mais para trás; que esse segurança começou a gritar, xingar e empurrar o declarante, mandando sair dali imediatamente, sem deixar que explicasse o motivo de estar ali; que o declarante acredita que foi abordado dessa forma porque vestia a camisa do Mirassol”, afirmou.
O rapaz informou que enquanto o segurança o empurrava em direção à porta do estacionamento, foi o tempo todo xingado e ouviu frases como: “vamos, moleque”, “vocês são time pequeno”, “time de Série B”, “se fosse no nosso estádio, seria diferente” e “aqui é Palmeiras”.
De acordo com o filho de Marcondes, ao chegar na porta do estacionamento, o segurança deu um empurrão final, momento em que o pai do declarante viu a cena. “Imediatamente, o pai do declarante foi em direção ao segurança questionando o porquê estava agindo daquela forma agressiva, o que teria ocorrido para destratar uma pessoa daquele jeito. Em resposta, o segurança disse ‘vão se foder’.”
De acordo com o depoimento Marcondes rebateu: “‘vão vocês’, ‘que bagunça vocês estão fazendo aqui?’, ‘pra que tanta agressividade?’, ‘respeitem a torcida do Mirassol’.” “O segurança respondeu com ‘vocês são um timinho’, ‘fica na tua, mano’ e ‘olha o seu tamanho'”.
O segurança acabou sendo retirado do local por outros membros da delegação do Palmeiras, pois estava completamente alterado. “Mais pessoas começaram a se aglomerar, além de policiais militares; nesse momento, começou uma confusão generalizada entre o pai do declarante e parte da delegação do Palmeiras, com uma grade sendo colocada para separação; enquanto parte da delegação do Palmeiras tentavam acalmar a situação, outros partiram para cima do pai do declarante, tentando agredi-lo, mas foram contidos; que o segurança que iniciou toda a confusão se soltou e tentou atacar o pai do declarante, mas também foi contido”, consta no depoimento. Em seguida, ele e o seu pai foram embora.
De acordo com o delegado, quando o filho do vice-prefeito foi perguntado se ouviu seu pai dizer a osegurança as palavras “vai tomar no cu, seu macaco”, “lixo” e “macaco velho”, o rapaz “afirmou que só lembra do que o segurança disse a ele e do início da discussão entre seu pai”
“Depois que a confusão ficou generalizada, passou a se preocupar com a possibilidade de algo pior acontecer e não prestou atenção no que foi dito por qualquer pessoa”, afirmou o filho de Marcondes no depoimento.